quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Polícias sem história – Francisco Moita Flores

Sinopse

Um olhar irónico sobre a vida do ponto de vista dos polícias e não só...

Teve o direito a votar e votou. O direito de comprar o carro a prestações e comprou. A adquirir casa com o juro bonificado e adquiriu. A ir ao médico e escolher se queria consulta com recibo verde e escolheu. Mas, sublimidade de todas as coisas sublimes, teve direito ao protesto e não protestou. A fazer greve e não fez. A revoltar-se contra a arrogância e preferiu o silêncio. A reagir à injustiça e quedou-se atormentado. A indignar-se contra a hipocrisia e morder a raiva até espirrar sangue. Foi solidário. Todos os domingos dava esmola a um mendigo e, ainda que por medo, nunca deixou sem gorjeta um arrumador de carros. Deus deu-lhe o nome de Ernesto. O Diabo fez dele polícia.


«Vão pensar que é embirração, mas não é. Numa história de polícias, o legislador está sempre tão presente como Jesus Cristo num catecismo para crianças. É que o legislador não conhece a Musqueira nem o bairro da Sé. Legisla num confortável gabinete, que os espíritos querem-se confortáveis e confortados. E, por amor de Deus?!, não faz sentido que a inteligência, esse produto milagroso e raro que habita togas respeitáveis, entre nos tugúrios fétidos e escuros do Casal Ventoso. Isso é coisa para polícias, brutos e malcheirosos, ordinários por nascimento e dactilógrafos de pacotilha por opção. Sejamos sérios e ponhamo-nos cada um no seu devido lugar. A justiça é um dom de deuss, polícias e criminosos, um vómito do Diabo num dia em que acordou ressacado.»

A minha opinião

Conta a história de Ernesto, polícia de profissão, homem do povo.
Desde que comecei a ler os romances de Francisco Moita Flores senti-me, desde logo, completamente agradado com a sua escrita muito própria onde mistura o humor com verdades que precisam ser ditas, faladas e postas em causa. Sem dúvida alguma é um defensor dos fracos e oprimidos, contra as injustiças de uma sociedade que nasceu torta.
Os diálogos que constrói são de soltar gargalhadas e a forma prática com que consegue misturar uma escrita popular e uma escrita que chega a ser poética confere a Moita Flores um estilo muito próprio e pessoal que me atrevo a elevar ao patamar de excelente.
Este romance é um grito de revolta contra o egoísmo e arrogância de quem manda, quem governa e conduz este barco com o nome Portugal.

Porque nos mantemos calados quando deveriamos falar, porque nos rimos quando nos apetecia chorar, porque não ajudamos quando deveriamos ajudar. A cobardia em que vivemos destrói a nossa vontade de sonhar.

“A Justiça é um dom dos deuses, polícias e criminosos um vómito do Diabo num dia em que acordou ressacado”.



1 comentário:

Books Lovers disse...

Não sabia da existência deste livro, deixou-me curiosa para o ler, ainda mais sendo que conheço bem esse mundo dos agentes que trabalham para nos proteger.

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