Sinopse
Dez anos depois de ter saído de Portugal, Ricardo Adolfo conta agora a história de um jovem casal de imigrantes ilegais, que um dia se perde e não consegue encontrar o caminho para casa.
Brito é imigrante ilegal numa cidade que não conhece e cuja língua não fala. Um domingo à tarde, depois da volta das montras, perde-se a caminho de casa com a mulher e o filho pequeno.
E como acredita que para tomar uma decisão acertada tem de fazer o contrário daquilo que acha que está correcto, o regresso a casa revela-se impossível. Depois de uma noite na rua, Brito percebe que se não pedir ajuda pode ficar perdido para sempre, mas se o fizer pode arruinar o sonho de uma vida nova.
Em pouco mais de vinte e quatro horas, Depois de morrer aconteceram-me muitas coisas explora o que é viver imigrado dentro de si mesmo - mais difícil do que qualquer exílio. “E não havia maneira de me habituar a viver morto.”
Sobre o autor
Nasceu em Luanda em 1974. Viveu nos arredores de Lisboa, em Macau e em Londres. De momento vive em Amesterdão.
Ricardo Adolfo divide o seu tempo entre a escrita e a publicidade. Começou por publicar a colecção de contos Os chouriços são todos para assar (2003), que se seguiu o romance Mizé (2006), já traduzido para diversas línguas.
Críticas sobre Depois de morrer aconteceram-me muitas coisas
“A nova literatura portuguesa passa obrigatoriamente por aqui.” Valter Hugo Mãe
“A partir de Amesterdão, onde vive, o jovem escritor português Ricardo Adolfo observa o seu país com feroz e acutilante ironia. Talvez só de longe seja possível ver tão perto. Um escritor que Portugal precisa de descobrir” José Eduardo Agualusa
A minha opinião
Gostei do título, gostei da capa e entusiasmei-me pelo facto de ser um autor português. Posso adiantar que fiquei deslumbrado pela escrita tão diferente e nada convencional de Ricardo Adolfo.
Este romance retrata a vida de Brito, Carla e o filho de ambos, imigrantes na “Ilha”, na tentativa vã de melhorar a condição de vida. Porém, as coisas não correm pelo melhor e esta família vê-se perdida, excluída e só.
É um tema bastante actual, onde Ricardo Adolfo perspectiva a imigração do ponto de vista da exclusão social e a incapacidade de adaptação a diferentes realidades.
Fala de saudade: “As saudades comiam-me tanto, que quando ouvia alguém da terra, na rua, seguia-os. Não metia conversa. Faltava-me sempre lata… A única diferença é que não o fazia por coscuvilhice, mas por necessidade”.
Fala de solidão: “Um dia, sozinho, a caminho de casa, deixei-me ir contra um poste só para me certificar de que estava mesmo lá, para ter a certeza de que eu não era imaginação minha. Existia segundo o poste, e nunca cheguei a perceber porque é que ninguém me via”.
Fala de exclusão: “A vida continuava a acontecer em estrangeiro e sem legendas.”
Fala de incertezas: “Decidi que daí em diante deveria fazer sempre o contrário daquilo que achava estar certo. Ia fazer as coisas mal para me sair bem”.
O que mais gostei foi sem dúvida a escrita de Ricardo Adolfo, os textos e diálogos entre os personagens são fantásticos, sempre com uma ironia bem vincada. O que gostei menos foi o arrastar da história, a certo ponto achei-a um pouco monótona. Porém, é, sem dúvida, obrigatório seguir este autor.
Frase que fica: “As pessoas pediam a Deus, Ele não fazia nada, as coisas acabavam por acontecer e depois Ele vinha com contas. Só a hipótese de represálias era suficiente para pôr qualquer um de joelhos a caminho da amiguinha d’Ele, a Fatinha”.
1 comentário:
Grande livro!
Aproveito para avisar que agora o JL tem um site. Visite-nos em www.jornaldeletras.pt e actualize a morada no blogue. Obrigado e bom trabalho!
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