terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Trilogia da Cidade de K. - Agota Kristof

Sinopse

Trilogia da Cidade de K. - título originalmente concebido pela autora para a presente edição portuguesa - reúne num só volume três romances de Agota Kristof, escritora húngara que, em 1956, fugiu do seu país para se radicar na Suíça, começou por publicar separadamente, mas que formam um conjunto dotado de uma extrema e paradoxal unidade.
Através de páginas de uma beleza profundamente despojada e da história de dois gémeos que os acasos da vida acabam por separar de forma irremediável, o leitor é confrontado com um universo sufocante que, mais do que simbolizar o carácter afinal equivalente das sociedades totalitárias do leste europeu e das sociedades consideradas "livres", reflecte a revolta contra o absurdo e a violência da moderna condição humana.

A minha opinião

Este livro reúne três volumes também editados separadamente: O caderno grande, A prova e A terceira mentira.
A história acontece num país e durante uma guerra que não estão identificados.
Uma mulher, cujo marido está na frente da guerra, não consegue sustentar os seus filhos gémeos Lucas e Claus e deixa-os aos cuidados da sua mãe, uma pessoa fria, sem asseio, que os obriga a trabalhar, não os deixa ir à escola e os priva do conforto e qualidade de vida. A avó é conhecida como bruxa e mal vista pela vizinhança.
Os gémeos trabalham na horta, mas, às escondidas, estudam com um dicionário e uma bíblia, além de fazerem exercícios para aprenderem a fazer face à dureza da vida. Desenvolvem artes circences e começam a dar espectáculos em tascas, ganhando assim algum dinheiro.
Os capítulos, no início do livro, são curtos e muito fáceis de ler.
A linguagem é simples e limpa. Os acontecimentos são descritos da forma como são apreendidos pelos dois meninos que, por esta altura, têm 9 anos.
Há imensos diálogos, o que ajuda a tornar a leitura muito fluída.
No final da guerra, os irmãos, agora com 15 anos, separam-se: um fica na casa da avó e o outro atravessa a fronteira.
A partir daqui a narrativa prossegue com a vida de Lucas, os seus relacionamentos amorosos, o filho deficiente de Yasmin que adopta e trata como se fosse realmente seu filho. Tudo isto num período conturbado do pós-guerra, com insurreições e contra-revoluções.
Na última parte do livro, passados 30 anos, a história é novamente apresentada à luz de outra realidade. E as dúvidas surgem. Lucas e Claus seriam realmente gémeos ou apenas existia um deles que tinha inventado o outro? Algumas das personagens dos primeiros capítulos exitiram de facto como foi relatado ou tiveram outros papéis? Serão apenas delírios derivados da idade avançada da personagem? Neste 3º volume os principais episódios da história inicial são recontados de uma forma completamente diferente, o que deixa o leitor um pouco baralhado e a pensar que, afinal, tudo não passou de uma mentira.
Nas derradeiras páginas somos confrontados com a solidão, a velhice sem família, sem dinheiro, sem amigos ou objectivos. Interessa tão somente chegar ao fim de cada dia, sobreviver.
No final ficamos a saber se de facto eram dois irmãos ou era mesmo só um que imaginou tudo para fugir à solidão. E isso, claro, não posso revelar aqui. Terão que ler o livro.

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