quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Kafka à beira-mar - Haruki Murakami

Sinopse

Kafka à Beira-Mar narra as aventuras (e desventuras) de duas estranhas personagens, cujas vidas, correndo lado a lado ao longo do romance, acabarão por revelar-se repletas de enigmas e carregadas de mistério. São elas Kafka Tamura, que foge de casa aos 15 anos, perseguido pela sombra da negra profecia que um dia lhe foi lançada pelo pai, e de Nakata, um homem já idoso que nunca recupera de um estranho acidente de que foi vítima quando jovem, que tem dedicado boa parte da sua vida a uma causa- procurar gatos desaparecidos.
Neste romance os gatos conversam com pessoas, do céu cai peixe, um chulo faz-se acompanhar de uma prostituta que cita Hegel e uma floresta abriga soldados que não sabem o que é envelhecer desde os dias da Segunda Guerra Mundial. Assiste-se, ainda, a uma morte brutal, só que tanto a identidade da vítima, como a do assassino, permanecerão um mistério.
Trata-se, no caso, de uma clássica (e extravagante) história de demanda e, simultaneamente, de uma arrojada exploração de tabus, só possível graças ao enorme talento de um dos maiores contadores de histórias do nosso tempo.


Críticas da Imprensa

"Um dos melhores romances de Murakami."
Newsweek

"Kafka à Beira-Mar é vivamente recomendado; leia-o ao seu gato."
Washington Post

"Um dos mais interessantes escritores do mundo."
Evening Satandard

"Como consegue Murakami criar poesia ao escrever sobre a vida contemporânea e as emoções? Estou ajoelhado de admiração."
The Independent

A minha opinião

Não posso estar mais de acordo com o The Independent relativamente à presente obra de Murakami: estou ajoelhada de admiração!
Que delícia ter descoberto este autor japonês, tão diferente de tudo o que já li, e que pena não o ter feito há mais tempo.
Neste livro assiste-se a um encadeamento de acontecimentos bizarros, vividos por pessoas misteriosas, às quais nos efeiçoamos à medida que as conhecemos.

Kafka Tamura é um rapaz de 15 anos que foge de casa e acaba por cumprir uma estranha profecia ditada pelo seu pai. Vem a conhecer Oshima, personagem muito interessante, que trabalha numa biblioteca e de quem se torna amigo. Saeki-san, a gerente da biblioteca, tem também uma história de vida muito misteriosa, que envolve a música "Kafka à beira-mar".
A biblioteca torna-se no local onde vive Kafka. Deste seu contacto caloroso com os livros, retirei dois excertos que me marcaram:

«Ao folheá-los, desprende-se das páginas de quase todos eles o perfume de um tempo passado - um perfume feito de saber e emoções que durante tempos infindos tem estado posto em sossego, a repousar no interior das capas.»

«Uma biblioteca deserta, de manhã - aí está uma coisa que mexe com a minha imaginação. Todas as palavras possíveis e imagináveis, todos os pensamentos do mundo descansam ali, tranquilamente (...) volta e meia interrompo a minha tarefa, deixo-me ficar a olhar para todos aqueles livros silenciosos (...).»

A alma de kafka tranformou-se num corvo negro na altura em que foi abandonado pela mãe e este corvo acompanha-o durante a sua vida. Como é referido no livro, Kafka viaja pelo reino das possibilidades, pelo que não estranha encontrar dois soldados numa floresta, desaparecidos na 2ª Guerra Mundial, e que não envelheceram.

O velhote Nakata é, quando a mim, a personagem com quem mais simpatizei. Foi atingido por um fenómeno inexplicável quando era criança e deixou de saber ler e raciocinar correctamente, além de ter um poder estranho de falar com gatos e de fazer chover pequenos animais, como sanguessugas. Há muitos momentos cómicos protagonizados por Nakata, nomeadamente com Hoshino, um camionista, que o vai acompanhar na sua missão de "abrir e fechar a entrada". Ambos vivem aventuras surreais.

As personagens do livro acabam por se cruzar, algumas indirectamente, e os acontecimentos, que vão tornando o livro viciante, desenrolam-se de uma forma inimaginável e surpreendente, como se alguns deles tivessem lugar num outro mundo mesmo aqui ao lado do nosso.

O mundo interior das personagens está muito bem caracterizado. Conseguimos "entrar" na cabeça de cada uma delas e perceber o que sentem, como vêem a realidade à sua volta e os acontecimentos.
A escrita invulgar de Haruki Murakami consegue ser simples e, ao mesmo tempo, complexa. Este autor é um mestre na linguagem poética e elegante.
Encontrei expressões como "tintim por tintim", "podes ir à tua vida", "estou metido numa salgalhada das antigas", "por a vista em cima", "ou vai ou racha" ou "dê lá por onde der" e achei muito curioso.
Parabéns também à tradutora, Maria João Lourenço, pelo excelente trabalho e pelas notas de rodapé, que revelam uma grande pesquisa e nos ajudam a perceber melhor alguns aspectos quotidianos e culturais do Japão que, sem essas informações, nos passaríam despercebidos.
No final, há assuntos que ficam por esclarecer, mas, pelo que já soube, isso é comum a Murakami. No meio de tantos elementos fantásticos e improváveis para o comum mortal, o leitor tira as suas próprias ilações.
Na estante, por ler, o Sputnik meu amor aguarda a minha disponibilidade para me enredar nas suas páginas, na certeza de que este Kafka à beira-mar é, para mim, uma obra-prima.

Excertos

«Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcão. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta à outra.»

«O amor é isso mesmo meu caro Kafka. Tu é que andas sempre nas nuvens e experimentas todos esses sentimentos maravilhosos, do mesmo modo que só tu é que desces ao abismo mais profundo da angústia. E o teu corpo e a tua alma têm de suportar. Estás entregue a ti próprio.»

«Quanto mais tempo as pessoas vivem, melhor aprendem a distinguir o que é importante do que não é.»

«O tempo continuou a passar, sem história.»

8 comentários:

Unknown disse...

Era já um livro que eu me tinha obrigado a ler em 2010. Agora estou mesmo convencido que vou fazê-lo com todo o prazer.
Parabéns pelo seu blog e bom ano!

Paula disse...

Murakami, um escritor que descobri este ano e vou continuar a ler em 2010.
Kafka à Beira Mar é de todos os livros que li dele o meu preferido.
Um abraço e um óptimo 2010.

Rock In The Attic disse...

Murakami é Grande, Excelente! Ainda bem que o descobriste.

Bom Ano e boas leituras.

Filipe de Arede Nunes disse...

Murakami é o meu escritor favorito da actualidade. É um génio.

Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes

djamb disse...

Tenho ouvido falar maravilhas de Murakami, mas o primeiro que li (não terminei) não me cativou.
Contudo, as críticas a este têm sido fantásticas, fiquei curiosa.
Boas leituras!

Catherine disse...

6 estrelas, "obra prima"! e com críticas tão boas não posso deixar de ler, fiquei muito curiosa!

'Os anagramas de Varsóvia' também promete!! Gosto particularmente de literatura policial.

óptimo blog! ;)

beijinho,

Catherine

branca de neve disse...

Olá
Tenho este livro e o do carneiro do mesmo autor. Mas vou adiando sempre a leitura. Mas agora a tua opiniao entusiasmou-me, Talvez seja o impulso que estava a precisar.

Carla disse...

Bom estou a ver que estou a perder uma escritor soberbo. Na realidade tenho muitos livros dele cá em casa, e entre eles está o que tu opinas-te. Já vou anotar nas próximas leituras a fazer. Adorei a tua opinião e acredita que já li muitas sobre este livro e sobre o escritor;)

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