sábado, 19 de dezembro de 2009

A Cabana - Wm. Paul Young

Sinopse

E se Deus marcasse um encontro consigo?
As férias de Mackenzie Allen Philip com a família na floresta do estado de Oregon tornaram-se num pesadelo. Missy, a filha mais nova, foi raptada e, de acordo com as provas encontradas numa cabana abandonada, brutalmente assassinada.
Quatro anos mais tarde, Mack, mergulhado numa depressão da qual nunca recuperou, recebe um bilhete, aparentemente escrito por Deus, convidando-o a voltar à malograda cabana.
Ainda que confuso, Mack decide regressar à montanha e reviver todo aquele pesadelo. O que ele vai encontrar naquela cabana mudará o seu mundo para sempre.

A minha opinião

«- Se não foste capaz de cuidar de Missy, como posso confiar que cuides de mim?
(...)
- É por isso que estás aqui Mack (...) Quero curar a ferida que cresceu dentro de ti e entre nós. (...) quando não consegues ver para além da tua dor, possivelmente perdeste-me de vista, não é?»

Ao contrário do que a sinopse dá a entender, este é um livro caloroso, daqueles que aconchega o coração.
Missy foi raptada e assassinada aos 6 anos e a sua morte é identificada como a Grande Tristeza que se abateu sobre toda a família. A sua ausência criou um enorme vazio, o qual, quase 4 anos depois do incidente, ainda não foi ultrapassado.
A tragédia aumentou o abismo entre o relacionamento de Mack com Deus, embora ele não se tenha apercebido imediatamente desse crecente afastamento.
A velha cabana abandonada onde foram encontradas as provas do assassinato é o ícone da dor mais profunda de Mack e, quando este recebeu um bilhete de Deus convidado-o a ir até lá, acabou por ir, sem que a família soubesse, para tentar encontrar respostas.
Mack tinha muita raiva, muitas perguntas sem resposta e muitas acusações dolorosas a Deus, se é que Deus existia. Já na cabana encontra três personagens, duas mulheres e um homem, que personificam Deus, Jesus e o Espírito Santo.
A partir daqui a história deixa de ser tão dramática e, além da paz que transmite, tem situações muito informais com sentido de humor, que nos fazem sorrir.
Ao longo de um fim-de-semana, Mack é encaminhado para vários cenários - lago, jardim, caverna, penhascos - onde tem novas revelações que o vão levando progressivamente a alterar muitos pontos de vista relativamente aos seus "dados adquiridos" sobre Deus e a Criação.

Na primeira parte do livro, este prendeu a minha atenção e, depois de devidamente saboreadas, as páginas iam-se virando com muita curiosidade da minha parte em saber o que ia acontecer a seguir.
Mas depois deixou de ser um romance. As conversas com Deus assumiram, quanto a mim, a forma de uma aula teórica de moral, deixando completamente de lado o tom romanceado do livro que adorei inicialmente.
Relacionei algumas questões apresentadas com vivências minhas ou de outras pessoas que estão perto de mim e o livro fez-me reflectir sobre isso.
O livro mudou a minha vida conforme anunciado? Nem por sombras. Mas acredito que atenue a dor de alguém que perdeu um ente-querido e ainda não ultrapassou essa perda ou conforte pessoas que acreditem já não ter fé ou esperança.

Excertos

«A vida custa algum tempo e muitos relacionamentos.»

« (...) A maioria dos pássaros foi criada para voar. Para eles ficar no solo é uma limitação da sua capacidade de voar, e não o contrário. (...) Tu, por outro lado, foste criado para ser amado. Assim, para ti, viver como se não fosses amado é uma limitação, e não o contrário. (...) Viver sem ser amado é como cortar as asas de um pássaro e retirar-lhe a capacidade de voar. (...) a dor tem capacidade de cortar as nossas asas, impedindo-nos de voar (...) E, se essa situação persistir por muito tempo sem resolução, quase podes esquecer que foste criado para voar

«O ser transcende sempre a aparência, aquilo que só parece ser. Assim que começas a descobrir o ser que há por detrás de um rosto muito bonito ou muito feio, de acordo com os teus conceitos e preconceitos, as aparências superficiais apagam-se, até deixarem, simplesmente, de ter importância.»

«(...) por vezes os sonhos são importantes. Podem ser uma forma de abrir a janela para deixar que o ar poluído saia.»

«O pecado é o próprio castigo, uma vez que devora as pessoas por dentro.»

«A confiança é fruto de um relacionamento em que sabes que és amado. Como não sabes que te amo, não podes confiar em mim.»

« - (...) A imaginação é um talento poderoso! (...) No entanto, sem sabedoria, a imaginação é uma professora cruel. (...) achas que os seres humanos foram criados para viver no presente, no passado ou no futuro?
- (...) Acho que a resposta mais óbvia é que fomos criados para viver no presente. Estarei errado?
- (...) Tens toda a razão, por sinal. Mas agora diz-me onde passas a maior parte do tempo na tua imaginação: no presente, no passado ou no futuro?
(...)
- Devo admitir que passo muito pouco tempo no presente. Passo grande parte dele no passado, mas, na maioria das vezes, estou a tentar adivinhar o futuro.
- (...) É impossível ter poder sobre o futuro, porque ele não é real e nunca o será. Tentas fazer o papel de Deus imaginando que o mal que temes pode tornar-se realidade e, em seguida, tentas fazer planos e criar alternativas para evitares aquilo que temes

«A nossa Terra é como uma criança que cresceu sem pais, sem ter quem a guie e oriente (...) Houve quem tentasse ajudá-la, mas a maioria procurou simplesmente usá-la. Os seres humanos, que receberam a tarefa de guiar o mundo com amor, em vez disso, saquearam-no sem qualquer consideração para além das necessidades imediatas. E pensaram pouco nos próprios filhos, que vão herdar a sua falta de amor. Por isso usam e abusam da Terra e, quando ela estremece ou reage ofegante, ofendem-se e erguem os punhos contra Deus

«Muitos acreditam que é o amor que cresce, enquanto o amor simplesmente se expande para o conter. O amor é apenas a pele do conhecimento

1 comentário:

Anónimo disse...

Um livro que nos faz tremer, chorar e pensar em Deus de um modo completamente diferente, mais próximo e mais humano... contudo, para quem não acredita em Deus (como eu), não considero que seja uma boa leitura.

Margarida Prudêncio

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