terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Chamava-se Sara - Tatiana de Rosnay

Sinopse

Julia Jarmond, uma jornalista americana casada com um arquitecto francês, investiga uma página negra da história francesa recente: a rusga através da qual a Polícia Francesa, na madrugada do dia 16 de Julho de 1942, levou mais de 8 000 judeus franceses para o recinto desportivo do Vélodrome d’Hiver, para que aí ficassem até serem deportados para os campos de concentração.
Descobrindo, horrorizada, o calvário de todas aquelas pessoas que, durante dias, sem água nem alimentos, ficaram a aguardar a deportação, Julia interessa-se, em particular, pelo destino de Sara, uma menina entre as mais de 4 000 crianças que ali estiveram. Sara, acreditando que estava a proteger Michael, o seu irmão mais novo, fechara-o à chave num armário, prometendo-lhe que iria buscá-lo depois.

E depois não conseguiu.

Em Paris, em 2002, Julia, enquanto percorre o passado de Sara, a rusga, a deportação, acaba por ter de reavaliar o seu próprio lugar naquele país, naquele casamento e naquela vida.


A minha opinião

A história começa com um espisódio, passado em Paris, em que polícias franceses entram numa casa e levam uma menina, Sara, e os seus pais. A pequena Sara, com 10 anos, não se afige, pelo facto dos polícias serem franceses e não alemães. Pensa que vão ser levados por pouco tempo e não lhes farão mal. Então, fecha o irmão à chave dentro de um armário e sai com os polícias, levando consigo a chave, achando que mais tarde virá tirá-lo dali. Só que isso não acontece.
O motivo desta rusga? Era uma família de judeus. Corria o ano de 1942.
Paralelamente, mas em 2002, é-nos apresentada Julia, uma jornalista americana a viver em França, casada com um francês e mãe de Zoë, uma rapariga de 11 anos.
Com capítulos curtos e que terminam de uma forma que deixa água na boca e ansiedade pelo próximo acontecimento, o livro vai contando alternadamente as histórias tão diferentes destas duas famílias.
E os episódios vão-se desenrolando, narrados pela inocência e incompreensão de uma menina a quem tiraram tudo e pela modernidade e experiência de uma mulher vivida, a caminho dos 50 anos.
Estas duas narrativas cruzam-se a partir do momento em que Julia é destacada para escrever um artigo sobre o 60º aniversário da grande rusga do Vélodrome d'Hiver, um estádio onde, no dia 16 de Julho de 1942, milhares de judeus foram trancados em condições desumanas e, posteriormente, enviados para Auschwitz em comboios de transporte de gado imundos.
Infelizmente, esta parte do romance é verídica, embora a história de Sara, cuja família foi levada para o Vélodrome, seja ficção. O nome de código da operação era "Brisa da Primavera". A pedido da Gestapo a polícia francesa enviou para campos de transição e depois para o campo da morte exactamente 13.152 judeus, sendo a maioria crianças. Devido às suspeitas da rusga, os homens, as principais vítimas de rusgas anteriores, esconderam-se e deixaram as mulheres e crianças em casa, pensando que ficavam a salvo. Mas estavam enganados. Depois, já nos campos de trabalhos, os homens foram separados e, mais tarde, as mães foram abruptamente retiradas às crianças. Quem não morreu de fome, maus tratos ou doença, viria a morrer em Auschwitz nas câmaras de gás.
A princípio, quando iniciei a leitura deste livro, achava que apenas os relatos da menina me prenderiam a atenção. Mas rapidamente me apercebi de que a investigação de Julia, a recontrução do que aconteceu, a visita aos locais, os testemunhos de quem viveu essa página negra da História eram extremamente interessantes, importantes e enriquecedores da obra.
Não direi como, mas Sara acaba por conseguir fugir, com a chave que nunca perdeu e a sua obsessão é libertar o irmão fechado no armário...
60 anos depois, ao mesmo tempo que escreve o seu artigo, Julia está quase a mudar de casa. E esse novo lar é precisamente aquele que um dia foi de Sara e da sua família. Através dos arquivos descobre uma foto da menina e fica a saber que o seu nome não consta da lista dos deportados para Auschwitz. E aqui começa a sua obsessão em encontrar o rasto de Sara, que na altura tinha um ano a menos que a sua própria filha...
Será que a encontra? A história pessoal de Júlia assume, para o final, um protagonismo que inicialmente não previra. A sua vida sofre uma grande reviravolta e o desfecho é verdadeiramente emocionante, a ponto de me ter posto com a lágrima no canto do olho e com um nó na garganta. Há muito tempo que não lia um livro que me emocionasse tanto.
Os acontecimentos relacionados com as personagens principais sucedem-se velozmente, tal como as diferentes emoções que sentimos com cada novo acontecimento ou revelação.
O final é lindo. Finalmente paz. Finalmente as pazes com o passado. A aceitação. A descoberta de quem somos.
Um livro fabuloso, que tanto tempo esteve parado na minha estante e que, tal como Julia em relação a Sara, eu não esquecerei. Aconselho a todos os que gostam de ler sobre a II Guerra Mundial, como eu. Imperdível!
Para mim é uma obra-prima, não só pelo enredo, mas também por não deixar esquecer o horror da rusga do Vélodrome d'Hiver.

Zakhor. Al Tichkah.
Lembrar. Nunca esquecer.

3 comentários:

B. disse...

Parece-me um livro bastante duro, mas bastante interessante!
Despertaste a minha curiosidade :D

Bjs

Catherine disse...

Fiquei com uma imensa vontade de o ler ! ;) obrigado pela partilha.

Catherine

Joaninha disse...

Eu ja li o livro e fiquei absolutamente fascinada com a historia, aliás com ambas as historias, a de Sara e a de Julia. Vou apresentar o livro amanha na disciplina de Portugues e aconselho vivamente à leitura, é fantastico!
(=

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