domingo, 25 de julho de 2010

A Fúria das Vinhas – Francisco Moita Flores

Sinopse

Uma história emocionante passada nos socalcos do Douro no tempo em que se abriam as portas da ciência e do conhecimento.

Este romance recupera factos e histórias que Francisco Moita Flores não incluiu na série que escreveu para a RTP com o título A Ferreirinha. Narra a epopeia da luta contra a filoxera, uma praga que, na segunda metade do século XIX, ia destruindo definitivamente as vinhas do Douro. Na mesma altura em que, por toda a Europa, surgiam as primeiras técnicas e tentativas de criação de um método para a investigação criminal.
Moita Flores criou um bacharel detective - Vespúcio Ortigão - que, na Régua, persegue um serial killer, confrontando-se com o medo, com as superstições, com as crenças do Portugal Antigo que, temente a Deus e ao Demónio, estremecia perante o flagelo da praga e dos crimes. É uma ficção, é certo, mas também um retalho de vida feita de muitos caminhos que a memória vai aconchegando conforme pode.

«Quem subir ao alto de Vargelas ficará com a certeza de que chegou ao ponto mais belo do céu. O Douro visto daquele píncaro é o Paraíso prometido em todas as lições de catequese. É grandiosamente belo! As montanhas entrelaçam-se, magníficas, para, de repente, se escancararem em vales matizados com toda a paleta de verdes e castanhos que Deus inventou. E pelas encostas, as quintas vão pintalgando de branco o silêncio majestoso por onde o Rio serpenteia.»

O autor

Francisco Moita Flores é um especialista na área da criminologia e tem escrito obras de grande sucesso quer em livro quer para televisão. A crítica considera-o um dos melhores argumentistas portugueses e algumas das suas séries são marcos de excelência da ficção portuguesa, como foi o caso d’A Ferreirinha.
Pese o facto de ter dedicado a sua vida ao estudo da violência, da polícia e à ficção, é a primeira vez que escreve um romance policial. A acção decorre no século XIX, nos primórdios da investigação criminal como hoje a conhecemos. Uma história emocionante ocorrida nas vinhas do Douro num tempo que abriu as portas da ciência e do conhecimento ao tempo que é o nosso presente.

Críticas

"Neste romance de confirmação, Moita Flores só não surpreende porque, quem segue com alguma atenção o seu percurso, já espera um livro desta qualidade. É uma escrita que flui ao sabor de uma excelente descrição do ambiente psicológico da época, com as suas crenças, medos e esperanças."

Luís Robalo de Campos

A minha opinião

Conta a história da casa Ferreirinha, as margens do Douro junto a Régua, das vinhas em socalcos que compunham as encostas e da devastação que ocorria com a filoxera, uma praga que assolava as vinhas do Douro na segunda metade do século XIX.

O romance conta a história de Dona Antónia, a força de uma mulher que conseguiu criar um império com a sua determinação e trabalho, nunca vergando perante a praga que teimava em destruir as vinhas. Por outro lado e, à maneira de Moita Flores, existe uma história paralela que nos leva aos primórdios da investigação policial em Portugal. Vespúcio Ortigão, acolhido por Dona Antónia que pagou os seus estudos torna-se o personagem percursor de uma investigação que assolava, à semelhança da filoxera, as regiões do Douro com a morte prematura de jovens do sexo feminino.

Antónia Ferreira tinha uma influência gigante sobre as gentes da Régua e por todas as regiões do Douro. Relata a história de Dona Antónia com os seus 76 anos. Anos de lutas, guerras, a força e garra de uma mulher que empeendeu e dedicou a sua vida à casa Ferreirinha. Perseverança é a lição que Dona Antónia não esqueceu no percurso da sua vida, foi essa qualidade que não a fez desistir nas lutas que foi travando e as vitórias foram sendo somadas.

Em simultâneo estamos no início da investigação criminal, os métodos são desconhecidos, o que se sabe é pouco conhecido e quem defende novas práticas é apelidado de louco. A própria medicina é antiquada, instrumentos como o microscópio são ausentes, o próprio conhecimento da autópsia é praticamente nulo, poucos conhecem esta prática que em muito contribui para a descoberta e confirmação do motivo da morte.

Por outro lado, este romance retrata bem a realidade da política portuguesa na altura. A vaidade em alta e políticos vazios de ideias, fanfarrões e sem qualquer desejo de servir um estado para o bem de todos. Fala dos avanços da investigação criminal, altura em que se dá a separação da acusação pela confissão por tortura e a acusação através de prova provada, que mesmo não havendo confissão o autor do crime é acusado e cumpre pena.

Sou suspeito, mas tenho Francisco Moita Flores como um autor de eleição. Os seus romances proporcionam uma leitura de prazer, bem escritos e com uma cultura vastíssima enriquecem quem se atrever na sua leitura.

“ O Douro era o ventre materno que a aconchegava no colo quando sofria ou era feliz. Dona Antónia sabia. Ninguém é feliz para sempre. A felicidade é uma pontuação, não é uma frase. E só a pode sentir no auge das emoções quem sofreu intensamente.”




quinta-feira, 1 de julho de 2010

Então chegámos ao fim - Joshua Ferris

Sinopse

Um retrato hilariante, comovente e surreal das actuais relações no mundo do trabalho. Cada escritório é uma espécie de família e a agência de publicidade, que Joshua Ferris brilhantemente retrata no seu romance de estreia, é uma família nos seus melhores e mais estranhos aspectos, lidando com bisbilhotice, partidas e pausas para o café cada vez mais frequentes.
Entre os colegas que lutam pelos seus empregos contam-se: Tom, recém-divorciado e que usa três pólos da agência, uns por cima dos outros; Joe, um viciado em trabalho e perpétua vítima de sabotagem; Carl, cuja depressão não controlada o levou a pedir medicação "emprestada" a Janine; Chris, suspeito de roubar a cadeira a Tom; e Marcia, por quem Benny está apaixonado. Ao mesmo tempo que colega atrás de colega é despedido, todos adoptam a sua melhor pose profissional, fingindo fazerem progressos na misteriosa campanha publicitária pro bono que é o único "trabalho" que lhe resta.
Com um olhar muito perspicaz para os pormenores que fazem com que valha a pena observar a vida, Joshua Ferris relata uma história verdadeira e engraçada acerca da sobrevivência no mais estranho ambiente das nossas vidas - aquele que fingimos que é normal cinco dias por semana.

O autor

Joshua Ferris nasceu em Danville, No Illinois, e cresceu em Key West, na Flórida. Vive em Brooklyn. Completou um bacharelato em Inglês e em Filosofia na Universidade do Iowa e frequentou o Master of Fine Arts da Universidade da Califórnia em Irvine. A sua obra ficcional menos extensa tem sido publicada na Iowa Review, na Best New American Voice e na Prairie Schooner. Então Chegámos ao Fim é o seu primeiro romance.

Críticas de imprensa

«Uma estreia confiante como nunca que se lê de um só fôlego.»
San Francisco Chronicle
«Uma das mais originais e inspiradoras obras de ficção dos últimos tempos.»
The Washington Post
«Hilariante, com um leque de personagens tão absurdas quanto credíveis.»
Los Angeles Times

A minha opinião

Conta a história de um grupo de pessoas que trabalham numa agência de publicidade. Bem pagos vivem agora uma época de recessão. A agência ressente-se e os despedimentos começam a surgir.
Assim, é feito o retrato das relações nem sempre pacíficas, nem sempre compreendidas, mas profundamente marcantes entre os diferentes personagens.
O romance é também um relato insano da mente de cada um que habita a agência, os conflitos são frequentes, os desbloquedores da rotina diária são criados pelos personagens dando lugar a momentos hilariantes; estamos simplesmente a reviver a nossa própria vida diária. E isso foi o que mais me contagiou na leitura deste livro. Nós próprios vivemos momentos como os descritos, a loucura do dia-a-dia, o stress, os colegas idiotas, aqueles que nos identificamos, os amores que por vezes surgem motivados pelas relações diárias, os momentos em que explodimos e temos atitudes menos correctas.
Simples e muito bem escrito, com uma capacidade fenomenal de análise à vida, tanto profissional como pessoal e as influências que estas têem na vida uns dos outros.
Por vezes mesquinho, outras tantas absolutamente louco, tem episódios muito divertidos tais como Janine Gorjanc que é encontrada no McDonalds dentro da piscina de bolas vezes sem conta alheia a tudo e todos, ou Benny que visita frequentemente o totem deixado pelo seu colega Brizz depois da sua morte chegando mesmo a pagar uma choruda renda mensal para manter o totem armazenado, ou Carl que tendo uma depressão decide automedicar-se tomando comprimidos receitados a outra colega e provocando consequências desastrosas, ou mesmo Chris Yop que continua a trabalhar na agência arduamente fazendo-se passar despercebido, mesmo depois de ter sido despedido.
É um livro de paixões, de entrega, de desilusão, de olhar para trás e verificar as coisas que ficaram por fazer. É um livro que nos ensina sobretudo que devemos aproveitar a vida ao máximo, nada é definitivo e tudo é mutável.

"Caminhar à espanhol pelo corredor" (expressão utilizada quando alguém é despedido).



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